quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Terceira ode portuense

(a Anthony, derrotado ao pagar uma cerveja a peso de ouro)


Acreditem ou não,
ele está no Peter’s Bar
a tomar uma cerveja poliglota,

e ouve uma modinha brasileira
e ouve o que diz uma vendedeira de bordados
a uma vendedeira de galos de Barcelos:
que o bi-horário,
afinal,
não lhe compensa

É assim a zona ribeirinha,
aquela a que, sem contemplações,
chamam de Ribeira,
mas ainda que o rio seja hoje
mais merda, merda mesmo,
do que poesia
(poesia mesmo não haverá…),
lá estão todos em torno do nada fazer,
pois assim manda a memória do mundo,
manda o postal,
o roteiro da agência,
e manda,
sejamos justos,
a curva sublime que o rio faz
quando se desvia como um tolo para a foz.


Logo,
nesses primeiros dias de sol, as camélias
ainda mais clássicas do que académicas,
a espuma da podridão outorgando-lhes
o desígnio do caráter,
e já o rio está cheio delas,
cada rapariga atirou para lá a sua
e os rapazes mergulham no perigo
para poderem devolver à namorada
aquela flor que não se confunde com nada
a não ser com um artefacto
de conto de fadas.

Mas é a festa mais célebre da cidade,
mais antiga do que a cidade e o seu capitalismo,
e ele abandona o lugar
como um grande viajante do sexo
que na ternura só soube fazer turismo.

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