quarta-feira, 6 de setembro de 2017

A outra pessoa na casa

Há, na vida, coisas muito bonitas:
melodias,
as covinhas de um rosto de rapaz,
a água de Tales de Mileto…
Mas nada se compara ao desconforto e à comoção
da outra pessoa na casa.

Sim,
eu gostaria de viver numa ilha do Pacífico,
entre nativos que já não existem,
e trocando as doenças do frio
pelas doenças do calor.
Mas a outra pessoa na casa prefere o Índico,
que também tem falta de nativos
e excesso de ilhas com defeito.
E assim,
porque não temos meios,
justificação
ou imaginação para partir,
os nosso sonhos ficam menos puros
e mais vizinhos.

Sim,
também na cama nos desentendemos.
Sob os vinte colchões eu quero a ervilha de quebrar,
e a outra pessoa na casa
prefere o grão-de-bico.
Mas o que havemos nós de fazer
senão foder
até o tempo começar a germinar?

Sim,
eu sempre quis ter morte doce
e a outra pessoa na casa
tem projetos para uma morte salgada.
Por isso,
na falta de acordo,
viveremos até que algo ou alguém
por nós decida o tempero do nosso fim.

Sem comentários:

Enviar um comentário