terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Voz de Jean Servais

A vida é um poema em que os versos não estão
todos na mesma página. Que posso eu fazer
com este corpo só, só com um corpo? “Oh!,
já não dormimos hoje!”, quero dizer
que se afasta do sono todo o sonho
com uma timidez de coroa.
Lembrem-se de Dido mas não
do que lhe coube em destino.
Lembrem-se do meu reino
mas não do meu rosto
nem do meu busto
que é um arbusto
de puro
ar.
Não confundir nada com ninguém.
Não haver sequer rosa ao barulho.
Nada nem de justos nem de injustos.
Nada nem de luz nem de Beatriz.
Nada como um bumerangue
que regressa sempre a nada.
Nada às portas de nada.
Feito de nada.
Sem louvor.
Nada deixar escrito,
somente apalavrado.
Nada de semente.

Nada

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