quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O exigente

Ele era alemão
e estava em mó de dinheiro,
mas não gostava da ausência de paixão
com que os suíços tratariam do assunto.

Recorreu então aos serviços
de uma modesta empresa italiana
(empresa cujo nome ocultaremos),
que talvez pudesse fazer
o assunto passar
por menos… impassível…

Foi-lhe entregue o cardápio do possível.
A experiência Cidade que nunca dorme,
por exemplo,
não lhe servia:
demasiadas frentes,
demasiadas batalhas para ele poder
ganhar a guerra de uma abertura
de ímpar em ímpar.

E ainda que lhe agradasse uma outra hipótese,
a de depositar sua imensa fortuna
no cofre do Banco de Arguim,
para que o assunto chegasse a bom porto
seria preciso garantir o que lá faltava,
o marfim de uma torre,
de um farol,
uma vista sobre a altura da aventurança.

Rejeitou ainda um castelo na Toscana,
a coluna de Simeão Estilita,
o canyon de Messiaen,
um balão voando por cima de cerejeiras em japão

Foi só quando aqui chegou
que se sentiu chegado à terra fatal.
Deram-lhe um quarto num solar
ali à beira do Jardim do Morro,
e todo um fim de tarde para mirar a eternidade;
essa, que,
ao contrário do que dizia o outro,
é uma tristeza de água doce.

Quando chegou a hora de mandar pela janela,
ele pensou que o pior
que lhe podia calhar

era voar.

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