domingo, 3 de setembro de 2017

aleg(o)ria

de uma nuvem com forma de teta de vaca
sai uma tempestade de leite
(não houve sirene
porque o mugido se tornou nata)

fervem os reflexos nos lagos liriformes
mas o leite passa frio
como se fosse um livro
desescrito pelo tempo incólume

entornada na planura
qual quadro negro de uma sala de aula
a cidade está calma
nocturna

nas ruas
(futuras vias lácteas
há tão pouco tempo anárquicas)
somente um nascituro se insinua

mas eis que a cidade ganha asas
torna-se muito pequena
borboleta
fugindo não sã, mas salva

e a tempestade deixa nos caules
carícias de nácar
deixa risos sem tártaro
nos ramos mansos das árvores

as casas embebidas amolecem
ficam os recheios amnistiados
a Liberdade de delacroix
sente-se um logro afoga-se impotente

quem toma todo o leite é o leitor
(que traga açúcar que isto não é simples)


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